sexta-feira, dezembro 15, 2006

















Se e quando eu morrer eu quero ver você chorar... arrancar os cabelos. Seus gritos de agonia no ar. Quero ver você bater no peito... e alugar suas roupas e todo o resto. E soluçando, cair na minha cama. Eu quero saber que estou morta.
Eu quero saber que sou parte de você e que você não suporta minha ida. Quero ver você vestida de preto, com os olhos vermelhos de cansaço... por noite mal dormidas de sofrimento. Eu quero ouvir seu protesto na minha partida. Eu quero te ver nos braços de alguém gemendo. Ver você chutar uma cadeira e socar a parede e, reclamando, cair no chão... e gritar.
Eu quero saber que isso não é apenas um sonho.
Eu quero que minha morte seja como minha vida.
Eu quero a bagunça a batalha e o conflito. Quero lutar e ver você lutando por mim.
Eu quero ouvir... o seu arrependimento pelas coisas que não disse e não fez.
Na verdade, queria isso antes da minha morte.
Não os deixem demoverem-na ou fazerem-na ir, ou dizer que não é bom para mim... ou que para mim será difícil ir. Não é verdade.
Quero ver você sofrer.
Não me deixe afundar no silêncio, toda devota e educada.
Vamos fazer barulho!
Uma luz diferente encherá a sala.
Eu quero que minha morte te acorde e que você se sinta só.
E, quando eu for, quero ouvir você gritar.
- Não, não, não...
- Mas eu partirei
- Não, não. Por favor, não morra.















A sujeira não acaba. Ela só muda de lugar. Algumas coisas queimam ou são enterradas. Mas fogo faz fumaça, fuligem e sujeira... e as coisas enterradas surgem depois de um tempo. Viajam devagar. Pode-se dizer que se arrastam. Só tem água por baixo, infiltrada.
Deus nos deu olhos que não vêem muito, ou ficaríamos loucos. Nunca iríamos querer tocar de novo uma cama, ou sofá ou uma cadeira... se pudéssemos ver o que tem neles.
Há milhares delas. Muitas coisas com pernas. Elas furnicam e deixam seus ovos. Eles adoram nossa sujeira, vivem do que deixamos lá. Sobrevivem com pedaços nossos que morrem.
Mas menores que os ácaros são os germens.
Bem, fazemos o possível. Esfregamos e esfregamos... mas eles voam quando espirramos, nas gotas úmidas, cheias de doença.
Aí, tudo o que temos que fazer é respirar... e eles estão em nós, tentando nos matar. Não só os germens. Eles não parecem se os piores.
Há os vírus.
Alguns dizem que foram os primeiros a existir. E, por serem tão pequenos, não podem ser limpos nunca.
É por isso que no final não existe uma limpeza impecável. Você manda a sujeira embora para outro lugar. O trabalho nunca termina, é o que descobri.
Talvez a terra seja uma bola de penugem.
Alguns grandes limpadores dizem:
“Chega”.
É assim que sobrevivemos.
Por que não? Nós somos os parasitas que Deus esqueceu..
A verdade é que nunca desaparecemos. Apesar de tudo o que tememos... certamente não acabamos com a morte, por mais que as funerárias tentem.
Cada criatura alimenta outra. Todos são mães de todos. Ou, no mínimo, um tipo de hospedeiro.
Quando expiramos, talvez mudemos um pouco, mas não desaparecemos.
Não, nós deixamos uma marca. Uma impressão digital. Alguma bagunça. Talvez alguma dor, medo, ou dúvida, no coração de alguém.
Com certeza deixamos uma bagunça quando partimos.


Quando você olha de perto nada vai embora. Só muda. Como a noite vira dia, e o dia vira noite. Mas nem isso é verdade. È uma questão de ponto de vista, dependendo de onde se está na terra.
E, no fim, não vale a pena desperdiçar a vida.
Você não pode. Porque tudo o que você faz ou diz está lá, para sempre. Deixa provas.
Na verdade, é senso comum: não existe o “nada” absolutamente. Pode ser muito, muito pequeno, mas ainda está lá.
Na verdade acho que o “não” não existe.
Há apenas o “SIM”.




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