sexta-feira, julho 15, 2005
Caio Fernando Abreu
"...Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se não fosse nada..." ( Caio Fernado Abreu, em "Os dragões não conhecem o paraíso")
quinta-feira, julho 14, 2005
Fernando Pessoa
Doze signos do céu o Sol percorre
Doze signos do céu o Sol percorre,
E, renovando o curso, nasce e morre
Nos horizontes do que contemplamos.
Tudo em nós é o ponto de onde estamos.
Ficções da nossa mesma consciência,
Jazemos o instinto e a ciência.
E o sol parado nunca percorreu
Os doze signos que não há no céu.
Doze signos do céu o Sol percorre,
E, renovando o curso, nasce e morre
Nos horizontes do que contemplamos.
Tudo em nós é o ponto de onde estamos.
Ficções da nossa mesma consciência,
Jazemos o instinto e a ciência.
E o sol parado nunca percorreu
Os doze signos que não há no céu.
domingo, julho 03, 2005
Domingo de Sol
Como resistir a um domingo de sol e não sair? Acho que não é possível. Deveria trabalhar mas preciso entrar em contato com o sol este astro que é vida e te traz luz. Céu completamente azul turquesa sem nenhuma núvem. Oh! céu de Brasília vc nos contempla a cada dia com uma pintura diferente. Morar aqui é realmente estar em contato com o paraíso. Não escolhemos morar aqui, somos escolhidos. Aqui onde tudo parece tão perto, mas que está tão distante, onde vc caminha e não chega. Aqui onde as esquinas são inesixtentes e temos muitos "rond-point" com flores coloridas, com pessoas plantadas pelas ruas como se fossem estátuas de cera. Estas pessoas que passam pelas ruas de etnias mil. Essa infinidade de pássaros que se mistura com a população. Será que um dia também seremos alados e poderemos planar com os pássaros?
Bom isso tudo está me esperando lá fora.
Bom isso tudo está me esperando lá fora.
sexta-feira, julho 01, 2005
Homem Sentado (Ferreira Gullar)
Neste divã recostado
à tarde
num canto do sistema solar
em Buenos Aires
(os intestinos dobrados
dentro da barriga, as pernas
sob o corpo)
vejo pelo janelão da sala
parte da cidade:
estou aqui
apoiado apenas em mim mesmo
neste meu corpo magro mistura
de nervos e ossos
vivendo
à temperatura de 36 graus e meio
lembrando plantas verdes
que já morreram
à tarde
num canto do sistema solar
em Buenos Aires
(os intestinos dobrados
dentro da barriga, as pernas
sob o corpo)
vejo pelo janelão da sala
parte da cidade:
estou aqui
apoiado apenas em mim mesmo
neste meu corpo magro mistura
de nervos e ossos
vivendo
à temperatura de 36 graus e meio
lembrando plantas verdes
que já morreram
ME LEVE (Cantiga para não morrer) - Ferreira Gullar
Quando você for se embora
moça branca como a neve me leve,
me leve
Se acaso você não possa
me carregar pela mão
Menina branca de neve
me leve no coração
Se no coração não possa
por acaso me levar
Moça de sonho e de neve
me leve no seu lembrar
e se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento
Moça branca como a neve
me leve no esquecimento
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