sexta-feira, outubro 13, 2006

"Por que precisa você de um texto se sua voz e interpretação sem auxílio dele são mais expressivas e significativas do que quaisquer palavras?" Dorotee Eberlein Posted by Picasa

quinta-feira, outubro 12, 2006

Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, 18-9-1933
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sexta-feira, outubro 06, 2006

"Quem sempre olha para trás,
não vê senão sua sombra"
.
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Terra Ronca combina com Fernando Pessoa

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem por entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida."
Fernando Pessoa, passagem das horas"

Foto tirada em Terra Ronca-GO por Diederich Peeters
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segunda-feira, outubro 02, 2006


Sonho. Não sei quem sou.
Fernando Pessoa

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me.
Na hora calma Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber.
Se acordo Parece que erro.
Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.

Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
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domingo, outubro 01, 2006

Foto: Diederich Peeters Posted by Picasa
"Se não me for dado encontrar-te
nesta minha vida,
permite-me então sentir
sempre que eu não consegui te enxergar.
Permite que eu não me esqueça disso por
um só momento.
Deixa-me arrastar o tormento dessa tristeza nos meus sonhos e
nas minhas horas de vigília.

Enquanto os meus dias se passarem
no confuso mercado deste mundo,
enquanto as minhas mãos se encherem
com os ganhos do dia, permite-me sentir
que eu nada ganhei. Permite que eu não me
esqueça disso por um só momento.
Deixa-me arrastar o tormento dessa tristeza nos meus sonhos e
nas minhas horas de vigília.

Quando eu me sentar à beira do caminho,
cansado e ofegante, quando eu
estender a minha esteira no chão,
permite-me sentir que a longa jornada ainda
continua diante de mim.
Permite que eu não me
esqueça disso por um só momento.
Deixa-me arrastar o tormento dessa tristeza nos meus sonhos e
nas minhas horas de vigília.

Quando a minha casa estiver
enfeitada e nela soarem as flautas e os
risos, permite-me sentir que eu não te
convidei para a minha festa. Permite que
eu não me esqueça disso por um só momento.
Deixa-me arrastar o tormento dessa tristeza nos meus sonhos e
nas minhas horas de vigília."
Rabindranath Tagore, in "Gitanjali" (Song offerings/Oferenda lírica, 1913)