sexta-feira, dezembro 15, 2006


- Meu corpo virou uma propriedade sua. Agora eu o quero de volta. Como sempre foi. Mas tudo o que eu disse era verdade.
Como eu te adorei!
Sim!
Você foi divina!
- Tem algo estranho nas suas doces palavras. Minha dúvida é tão grande que está envenenando minha mente. Eu tenho que fazer essa pergunta amarga.
Fazê-la é muito indigno, irmão, pois você disse... que não havia mais ninguém para você, que eu era seu país secreto. A terra dos seus sonhos.
Então... quem é ela?
- Nenhum corpo de mulher me tenta. Por favor, acredite quando digo que... jamais te deixarei por causa de outra mulher.
Quem seria minha deusa escarlate?
- Mas eu nunca pedi isso... para me vendar os olhos e procurar por um beijo.
Minha mente está em chamas. Onde uma vez minhas pernas se... enrolaram de desejo por você, agora tudo o que sinto é ódio.
Eu quero te atacar. Te esfaquear. Te apunhalar pelas costas. E fazer com que sinta o poder da minha vingança, seu galanteador hipócrita!
- Um hipócrita?
Eu não sou mentiroso.
O que eu posso fazer para te purificar a mente?
Eu preciso te lava. Sim, da cabeça aos pés.
- O que você disse?
- Como pode duvidar de mim?
- Me lavar?
Você vê alguma sujeira?
Não vê como suas palavras machucam?
- Divindade
- Não me chame assim. Não sou eu.
- Em longas tardes senti os teus braços sobre mim... senti você, senti o encanto do corpo no corpo, da pele na pele. Mas, quando meu sangue está dizendo que é pecado....
- Agora espere. “Sangue”? “Pecado”?
O que está acontecendo?
- Eu me lembrei quem sou.
Os velhos sábios dizem que todo amor dado pela mulher nos distrai. Nos dizem que a riqueza espera por aqueles que superam a tentação... para atender a um chamado mais elevado.
Você está me pedindo para dar as costas, cair em pecado.
- Você consegue me olhar nos olhos e dizer que sou o seu pecado?
Você acha mesmo que não sou limpa? Uma vagabunda de segunda mão, uma máquina de transar? Uma distração suja de alguma forma obscena?
Olha, eu não sou apenas sua “deusa” ou “rainha”. Eu sou qualquer coisa... que escolher do século XXI, incluindo sua professora ou rei!
- Eu te fiz deusa e rainha. Eu te coroei.
- Foda-se! Quem você pensa que é?
- Eu já falei: você não é um rei!
É o meu papel.
- Senhor, desculpe-me. Eu esqueci. Você é o filho; e eu, não. Eu sou a filha, logo inferior.
- É você, seu povo... que se acha superior. Vocês querem governar, querem estragar. Querem nossas terras, nosso petróleo! Você acha isso civilizado?
Seu país é um dragão cuspindo fogo. Terra de marcas e fantasia: Big mac, big burguer, sim, big tudo.
E você, americana loira, é magra demais. Esbelta demais. Não é feminina. E a sua pele também: muito pálida, insípida. E seus olhos muito azuis.
Por que você me faz sonhar com você?
- Então estamos em guerra?
Seu terrorista!
- Imperialista!
- Preconceituoso!
- Vaca!
- Como chegamos nisso? Como me confundiu com eles?
Olha, eu não sou só americana, sou irlandesa também.
- E daí? Você tem raízes em algum lugar, mas esqueceu que é qualquer coisa... exceto poderosa. The big boss!
Você escuta nossas crianças gritarem, mas não tem dó, porque não são suas.
- Isso não é justo. Eu não pedi para fazer o que fizeram. Eu não tenho orgulho. Tenho vergonha.
Olha, eu sou uma só. Eu sou eu.
- “Eu isso, eu aquilo”.
Cada um de nós somos nós. Não estamos sozinhos.
- Eu sei. Eu concordo.
Eu não sou sua inimiga.
Como isso começou?
- De Eluis a Eminem, a arte de Warhol...
Conheço suas histórias, suas músicas de cor. Mas você conhece a minha?
Não, todas as vezes sou eu que me esforço, eu aprendo a rima do seu inglês.
E você conhece alguma palavra da minha língua, ao menos uma?
Você sabia que “Álgebra” era um homem árabe?
Você já leu a Bíblia?
Você já leu o Alcorão?
- É por isso que está me rejeitando?
- “Rejeitando”? Não, eu não rejeito. Mas, sim, eu exijo respeito.
Você disse que me queria. Mas como o que?
Seu “outro” exótico? Seu brinquedinho de estimação? Seu amante secreto?
Você me compra com cartões de crédito em restaurantes. Você me quer só para te satisfazer?
Não vê que ser desejado, não pelo que sou, não por minha nobre ascendência, mas pelo meu corpo, destrói minha dignidade?
Seu orgulho está ferido? Você está se sentindo pequena e machucada? Mas posso caminhar de cabeça erguida quando as pessoas cospem na minha cara por ter medo de mim?
Onde está o meu lugar de orgulho e honra neste jogo onde até.... pronunciar o meu nome é uma impossibilidade?
- Estou ouvindo. Fale mais.
- Na sua terra eu não sou visto. Eu sou um desafortunado.
Você não imagina, com os privilégios da pele branca..... e os direitos humanos que lhe são garantido... como eu preciso lutar para cada coisinha
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