quarta-feira, setembro 02, 2009

"Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!"
Clarice Lispector

domingo, agosto 30, 2009

Encontro

Temos um encontro marcado
com a lua cheia
numa praia deserta.
Somente nós três: eu, tu e a lua.
Aceitamos apenas um convidado:
um violão
que tem corpo de mulher
e cordas vibrantes
como as fibras do coração.
Elício Pontes

sábado, agosto 22, 2009

Chovem duas chuvas


Chovem duas chuvas:
de água e de jasmins
por estes jardins
de flores e de nuvens.


Sobem dois perfumes
por estes jardins:
de terra e jasmins,
de flores e chuvas.


E os jasmins são chuvas
e as chuvas, jasmins,
por estes jardins
de perfume e nuvens.


Cecília Meireles

segunda-feira, agosto 17, 2009



Agora sou um senhor cinquentenário. Hehehehehehehe

terça-feira, agosto 11, 2009




Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ...
para sempre ...
À margem de nós mesmos...
Fernando Pessoa

quarta-feira, julho 22, 2009

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Ipanema, Maresias, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente de sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o caminho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reivindica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê.
Você é o que ninguém vê.

(Marta Medeiros)

terça-feira, julho 07, 2009


"Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto."Marta Medeiros"

segunda-feira, julho 06, 2009

Michael, Forever


Num tempo de brincar e fantasiar
Lá estava ele, envolvido em trabalho, rígida disciplina de ensaios, shows,
Sob a batuta implacável de um pai violento.
Ali, sua estrela já brilhava, assim como sua linda voz e um largo sorriso.
Nos ciclos naturais da vida, tristemente invertidos
Num tempo de maturidade, lá estava ele,
Morando dentro de um enorme parque de diversões,
Sorrindo e brincando com outras crianças,
Seu deleite adiado, e tão duramente questionado.
Possivelmente, Michael estava dando voz à sua alma sonhadora e delicada,
Reivindicando a cura de um tempo não vivido, feridas que não se calam.
Um destino complexo, paradoxal
Que em vários momentos, semelhante a uma roda gigante,
Ora descia, ora subia, surpreendendo a todos.
Brilho e decadência,
Sombra e luz,
Black or White.
Sua música, seu dançar único, alegria e imagens embalaram nossos
sonhos, corpos e amores, melodias e letras se fundem a imagens
geniais, belas e universais.
A magia de sua presença continuará para sempre.
Afirmava ser Peter Pan, a criança eterna, o “ puer aeternus”,(*)
A recusa da realidade e da finitude, do tempo que não passa
E que guardará , sorte nossa, a magia de sua presença.
Assim, que os céus acolham seu brilho em alguma constelação
Bordando mais uma estrela em seu fundo infinito
Pois mitos habitam em nosso imaginário,
Espelhos e projeções das nossas profundas contradições humanas,
Bem representadas por uma sinfonia agridoce,
Sua rápida e inspiradora jornada por aqui.
Tereza Kawall
Obs*:Puer aeternus: arquétipo da eterna criança, tende a unificar: o Herói, a Criança Divina, as figuras de Eros, o Filho da Grande Mãe, Mercúrio-Hermes, o Trickster. Nele vemos um leque mercurial dessas “ personalidades”: narcisista, inspirado, efeminado, fálico, inquisitivio, inventivo, pensativo, passivo, fogoso e caprichoso.Citação de James Hillman, analista junguiano, em : “Senex e Puer”.

domingo, julho 05, 2009

A Era do Compacto

Por M.Medeiros
" Não aguento nada muito LONGO: filme de 3 horas, peça de teatro com mais de uma hora, só o que não me inibe é livrão - apesar de não ser lá muito agradável segurar um tijolaço. Tampouco gosto de me estender demais nos restaurantes. Não gosto de me estender em festas. Não gosto de me estender demais fora da minha casa e fora da minha rotina. Não gosto de nada que extrapole o tempo regulamentar do meu humor e da minha capacidade de simpatia. O que dizer de um palestrante que ama a própria voz ? E emails do tamanho de teses de mestrado? E teses de mestrado? E novelas que duram 8 meses?
Estou dando a impressão de que fui abduzida por esse mundo que não enaltece o prazer, que não se entrega à reflexão, que não curte as travessias. Mas a verdade é que eu ainda me regalo - e muito - com prazeres, reflexões e travessias, sem achar que para isso é necessário que eles me esgotem, que me obriguem a chegar na outra margem sem fôlego.
Para provar que não sou um caso totalmente perdido, algumas coisas ainda aprecio que sejam longas, como as amizades, as caminhadas, as conversas em volta da mesa, nosso tempo de vida... E uma boa transa, claro.
Já sexo tântrico é outro exagero. Cinco horas para atingir o orgasmo? Este pessoal não tem que trabalhar no dia seguinte? "
Tela: Fernand Khnopff



quarta-feira, junho 24, 2009

Encontros e Despedidas

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida.
Composição: M. Nascimento E F. Brant

terça-feira, junho 23, 2009

Riscos


Oportunidades…
Quem não concorda comigo que as oportunidades, aquelas que nos parecem tão aprazíveis, tão boas, diria tão sonhadas, só nos aparecem em momentos em que estamos ocupados, por assim dizer? É assim, aquela velha história que todos nós conhecemos. E um exemplo bem prático e fácil disso, com o qual eu creio que quase todo mundo vai se identificar: quando estamos compromissados, aparece aquela outra pessoa. Sabe aquela? Sim, essa mesma. Mas por estarmos compromissados nós deixamos pra outra hora, esperando (rezando) para que a oportunidade caia de novo em nosso colo. Mas certo na vida é que isso só voltará a acontecer mais uma vez quando estivermos novamente compromissados com algo novo. É a Lei de Murphy que age sobre nós. Mas mais que isso, ao longo dos anos nós percebemos que é o tempo o nosso pior inimigo. O tempo, como eu disse mais de uma vez, é como uma amante traída, que exige atenção e carinho. Por que se formos desleixados com relação a ela com certeza vamos nos arrepender. Quando eu começo a falar desse tipo de coisa, de não perder oportunidades, de não deixar as coisas passarem, mesmo tendo um compromisso, as pessoas tendem a achar que é por que eu sou mais um daquela leva de pessoas infiéis, que não tem compromisso com nada, que não leva as coisas a sério… Bem, eu sou. Mas é mais do que isso. Eu falo de nos mantermos abertos às novas oportunidades sempre. De não nos tornarmos estátuas com medo de se arriscar, de tentar, de falhar. É compreensível como seres muitas vezes humanos, que nós não achemos a idéia de perder algum bem, alguma pessoa de alguma forma agradável. Mas assim é a vida, uma constante busca de aperfeiçoamento, que dura com sorte 70-80 anos, e que mais do que nunca ao chegarmos lá pelo fim somos lembrados mais uma vez de que nada é eterno. E se ficamos plantados durante toda a nossa vida, sendo nós mesmos coadjuvantes de nossa própria história, seres que seguem apenas um script já planejado, somos lembrados ainda de todas as coisas que nós deixamos passar. Todos os “e se…?” que ficaram no caminho. Manter os pés no chão é por vezes útil para não nos perdermos em devaneios lunáticos sobre conquistas, sobre ganhar na mega-sena, ou sobre comer a Srta Belucci. Mas como diz uma frase já bem batida até: “Quem mantém os dois pés no chão não sai do lugar”. Mas a vida é uma grande incerteza, um grande ponto de interrogação que nós tentamos desvendar, mas que a cada resposta nos surgem mais três perguntas. Locais seguros, lugares comuns. Isso nós temos aos montes durante toda a nossa vida. E todos sabem do que eu falo. Mas eu não quero saber quem eu vou ser daqui a 10 ou 15 anos, ora nem mesmo sei o que vou ser ou quero ser daqui a um mês. Dizem que quando crescemos devemos parar de sonhar, devemos assumir responsabilidades, nos tornarmos seres respeitáveis dessa miserável e decadente sociedade. Mas eu digo que, em meio a tanta escuridão nos resta sonhar, mais alto do que qualquer nuvem negra. Ontem nós éramos o futuro da nação, mas o nosso presente somente esta recheado de pessoas e opiniões requentadas. Pessoas que seguem padrões, que obedecem ordens sem questionar, que nascem com uma história pré-pronta, tem a mente bitolada e o olhar focado apenas em um ponto, e não nos 360º a sua volta. Mais uma vez eu repito que a vida é uma sucessão de incertezas. Então porque nos agarrar tão firmemente a essa realidade medíocre e mastigada. Eu quero chegar ao meu Gran finale com menos “e se…?” possíveis. Mas cada um é o mestre de seu próprio destino, não é mesmo? Ou será que até mesmo isso nos foi tirado nos dias de hoje? Escolhas e incertezas. É so isso que eu sei no momento.

domingo, junho 21, 2009

Virar a Página (título dado por mim)
Texto: Fernando Pessoa



"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..E lembra-te:Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão."
O Despertar
Flávio Bonugli




É de manhã,
abro os olhos tenho o teto/gris que me cobre.
Frio/cinza,
lá fora o sol desponta
um reflexo entra em foco de luz
apagando um pouco do gris do teto.
A jornada de domingo começa...
a preguiça,
o tédio,
o cinza...
Abro as cortinas,
o sol,
o jardim,
os pássaros,
o contraste.
Lá fora, aqui dentro.
Só uma parede nos separa,
uma janela,
um andar.
O canto dos pássaros lá fora,
o canto do silêncio aqui dentro.
Levanto sem fazer barulho
tentando manter o silêncio/cinza aqui de dentro.
A casa está fria como eu.
Já não me servem os edredons ou cobertores,
também estou frio.
O coração não aquece mais,
derrete como gelo.
O banho quente,
água quente que escorre sobre meu corpo,
sinto o vapor entrando em meus pulmões.
E o coração derrete.
Não tem solução vai ser assim,
já é assim,
se não for assim não sobreviverá.


sábado, junho 20, 2009


Sem saber o que fazer se vai prolongando espectativas, distorcendo fatos reais e realizando atos ilegais. Se vai ao longe dentro de um mesmo metro quadrado, se prende em um círculo vicioso e se foge do triângulo divino. Não se sai do ângulo de 90 graus, se tem febre, se compra gato por lebre, se acha que tudo vai passar. Parado no tempo a impressão do nada torna-se insuficiente. O cheiro do escuro inebria a mente, o calor do nada esquenta as idéias. Os pés formigam na saudade de correr, os pulmões aspiram a negritude do quarto e a dor percorre o teto, árido. O pensar cativa o errôneo, o espontâneo, a inquebrável certeza do palpitar do coração. As mãos se contraem como se quizessem agarrar o ar, prender o inerente e palpar o que não se pode ver e tanto se queria parar de sentir. Nas paredes vultos discretos do que não se encontra. Fria como ela só e minhas dúvidas, incertezas gélidas e pálidas pintadas por fora e por dentro concretas. Arquitetadas num cimento de indícios e liga de acidez, se contraem com o frio dos olhares e se espandem com o calor dos quereres. E se contraem e se espandem, como um coração de parede. Minha parede tem coração e meu coração é de concreto.


domingo, abril 26, 2009

Chernobyl

26 de abril de 1986 - Uma explosão na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, provocou a morte de 300 mil pessoas ao longo de 10 anos.
A mancha escura mostra a zona atingida pela radiação.
Que isso sirva de exemplo para a humanidade e que haja uma reflexão para onde o Homem (animal racional), está conduzindo o nosso planeta.

segunda-feira, março 23, 2009

Ontem fui assistir a mais uma produção do MET de NY no cinema. Foi a vez de Madame Butterfly, uma belíssima produção do Metropolitan com um cenário 10, direção de cena também 10 e me surpreendeu a soprano Patricia Racette que consegui segurar o papel muito bem. O último ato foi extrardinário, cantou a ária final divinamente bem. Parabéns MET continue assim...
e nós teremos a ópera de cada mes para nos deleitar, já que não temos ao vivo....



Ilustração: Juarez Machado


Um jantar bem pensado é um crescendo que começa com as notas suaves da sopa, passa pelos arpejos delicados da entrada, culmina com a fanfarra do prato principal, seguindo finalmente dos doces acordes da sobremesa. O precesso é comparável ao de fazer amor com estilo, começando com insinuações, saboreando os jogos eróticos, chegando ao clímax com o estrondo habitual e por fim deslizando em um afável e merecido repouso. A pressa no amor deixa irritação na alma, e a pressa na comida altera os humores fundamentais da digestão
(do livro Afrodite de Isabel Allende).

quarta-feira, março 18, 2009

O que acontecerá com este grande espaço vazio que sou agora? O que me irá preencher quando não sobrar o menor vestígio de ambição, projeto algum, nada de mim? A força da sucção me reduzirá a um buraco negro e desaparecerei. Morrer... Abandonar o corpo é uma idéia fascinante. Não quero continuar viva e morrer por dentro, se preciso continuar neste mundo, devo planejar os anos que me restam. Talvez a velhice seja outro começo, talvez seja possível voltar ao tempo mágico da infância, àquele tempo anterior ao pensamento linear e aos preconceitos, quando eu percebia o universo através dos sentidos exaltados de um demente e estava livre para crer no inacreditável e explorar mundos que depois, na idade da razão, desapareceram. Já não tenho muito a perder, nada para defender: será isso liberdade?" Isabel Allende no livro Paula
" Gostaria de sair voando numa vassoura e dançar pelos bosques, ao luar, invocando as forças da terra e afugentando os demônios. As feiticeiras são como estrelas solitárias que brilham com luz própria, não dependem de nada nem de ninguém, por isso não têm medo e podem se atirar no abismo, seguras de que não vão se arrebentar e de que sairão voando. Podem se transformar em pássaros para ver o mundo de cima, ou em vermes capazes de enxergar tudo por dentro, podem viver em outras dimensões e viajar para outras galáxias, são navegantes num infinito oceano de paz e conhecimento." (Isabel Allende)



quinta-feira, março 05, 2009

se vivo só
é marcha-a-ré
se nego o sol
só penso em mi
se sofro lá
ninguém tem dó
se você fá
eu quero si

M. Medeiros

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Carta do dia - Rei de Espadas (Tarô de Crowley)

Hoje você irá diretamente ao seu objetivo. Você poderá entusiasmar as pessoas com os seus planos, já que possui os conceitos mais convincentes e os melhores argumentos além de apresentá-los com charme e espirituosidade. Aproveite essa clareza mental, sobretudo para tomar decisões que já deveriam ter sido tomadas. Caso você esteja com um problema que não consegue resolver há muito tempo, procure hoje a ajuda profissional de um especialista.

sábado, janeiro 17, 2009

"Eu te amo" - disse.
E o mundo despencou-lhe nas costas
Não havia de sofrer tanto
O mundo pesa sobre o amor
Leveza dá pena no espaço
E se teu amor por mais pedra não voar:
Liberta tuas costas do peso que não carregas.
E se teu amor por mais pena não mergulhar:
Vai te banhar e olha-te no olhar que não te cega.
Se teu amor te pesa mais que o mundo que carregas:
Degela-o e deixa-o beber os deltas.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Da luz a Lúcifer e Vice Versa


Em tempos insanos, de tanta gente maluca por vaidade, maluca por juventude, maluca por dinheiro, maluca por poder, os lúcidos destacam-se pela raridade. São aqueles que não inventam personagens de si mesmos ( e se inventam, sabem), não se trapaceiam, não criam fantasias. Se comprometem com a realidade. Se comprometem com a verdade. E se envolver assim com a transparência dos fatos requer uma integridade diabólica. Para olhar o bicho nos olhos é preciso ser bicho também. Enfrentar a verdade é quase um ato de selvageria.
No ano do SOL, poderíamos dizer ano da LUZ, ano de Lúcifer, ano dos lúcidos, ano dos loucos..., um
amigo "en passant" na festa do Ano-Novo disse: "Ah este é o ano do SOL? Então isto significa que tudo vai ficar claro? " Gostei. Simples assim.
E daí vem os ditos:
O sol que ilumina, também cega.
O sol que aquece, também queima.
O sol que ilumina, ilumina, por mais que seja toldado por nuvens negras.
E com a força de raio-X de Plutão em Capricórnio, a verdade prevalecerá. Nos resta saber que verdade é esta? Acho que uma verdade desestabilizadora: a de que não existe verdade absoluta. Nossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço definitivo. Durante o percurso da vida, tudo é movimento, surpresa e sorte.
O lúcido faz parte do time - cada vez mais desfalcado - dos que se desesperam como todo mundo, porém de um modo mais íntimo e refinado. O lúcido organiza sua loucura e sabe que lucidez é uma falácia. Como são falácias nossas verdades.
Quando minha mãe, que já está num mundo particular (no entre-mundos/bardo), diz que não quer mais ficar aqui, quer ficar na sua casa, com seu pai, sua mãe e seu marido, eu brinco e digo que eles estão comendo bolo de laranja numa outra frequência e, que daqui a pouco ela estará com eles. Ela me responde num lapso de racionalidade: "Tá brincando "? Eu não quero morrer!"
Daí eu me deparo com a fragilidade das minhas verdades. Verdades inventadas para explicar o inexplicável. Verdades inventadas para que eu possa seguir com minha vida. É uma "leela", uma sagrada brincadeira do universo. Como diz o OSHO, sou eu.
E neste ano do SOL, de lúcifer, dos lúcidos, dos loucos, vamos surfar nas ondas do imprevisto, do imponderável, do inominável...
com alegria e bom humor!!!
Texto: Liane Leipnitz
Título: Flávio Bonugli